4.10.09

Amor que duras en mis labios



Busco tu piel inconfesable, tu piel ungida por la tristeza de las
serpientes; distingo tus asuntos invisibles, el rastro frío del
corazón.
Gamoneda

24.9.09





No dia a seguir às eleições, o sol vai nascer mais bonito, o céu vai estar mais azul, o teu ordenado vai subir, a tua casa vai ficar mais barata, as árvores vão dar frutos por tempo indeterminado, o desemprego desaparece, o ensino vai-te fazer mais humano, a saúde ficará mais acessível, a justiça mais verdadeira e eficaz, a crise vai ser paga pelos seus causadores e outros detentores de riquezas pornográficas.

E, daqui a quatro anos, vão-te explicar exactamente a mesma coisa, com este ou outro embrulho, dependendo da agência publicitária que tu lhes pagares. E assim sucessivamente até ao fim dos tempos, que eles, ainda por cima, zelam por antecipar. Em alternativa, até que te dês conta que, cada vez que delegas a gestão da tua vida na mão de auto-proclamados especialistas estás a dar-lhes carta branca para que tratem, em primeiro lugar, dos interesses deles.
Se quiseres participar, é contigo. Depois não te queixes, é só o que dizemos. Se não quiseres, podes sempre passar pela CasaViva, onde também há urna de voto, só que com uma entrada maior e sem exigências quanto ao número de vezes que dobras o papel.


http://casa-viva.blogspot.com/

a great night











ebony bones at casa da música
a minha opinião aqui.

13.9.09

Os teus lábios parados eram a noite, o abismo

e o silêncio das ondas paradas de encontro às
rochas. O teu rosto dentro das minhas mãos.
Os meus dedos sobre os teus lábios e a ternura,
como o horizonte, debaixo dos meus dedos.
Os meus lábios a aproximarem-se dos teus lábios.
Os teus olhos entreabertos, os teus olhos e os
teus lábios a aproximarem-se dos teus lábios
a aproximarem-se dos teus lábios a aproximarem-se
dos meus lábios, teus lábios.

(JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in "Gaveta de Papéis"/ Edições Quasi)

11.9.09

concerto para 9, 10, talvez 11 slides



Partindo do princípio que a imagem parada por si só conduz ao movimento,
o som acompanha esse pensamento.
Poderiam ser 12, quem sabe 13, mas 11 é mais que perfeito.
Parte do processo experimental passa pela adaptação sonora do acto físico estagnado ao brusco mexer mental.
E aí sim vemos que 11 é mais que perfeito.
Chega, como quem diz em sufoco, pois tanta é a agitação gerada por apenas e só 11 slides parados.

22 setembro às 22.00

diana-bar póvoa de varzim

7.9.09

estrada início


pouco depois do autocarro sair
da gare, ela, no caderno
escuro, escrevia a lápis: dentro
de dois dias, chegar será
o meu modo de dizer
sim. (e sublinhou a palavra)

bruno béu

1.9.09



Concerto de beneficência do grupo desportivo UDINEX, União Desportiva Inexplicável, composta pelos Ornatos e amigos.

Esta quinta-feira, 3 de Setembro, no Armazém do Chá.
Apenas 2 oiros (para ajuda da equipa de futebol).
Prevejo lotação esgotada e um excelente espectáculo.

27.8.09

Au Revoir Simone



Depois da tournée pelo Japão, as meninas indie pop actuam na Casa da Música, no dia 3 de Outubro.


República

27 de Agosto, por José Saramago

Vai para cem anos, em 5 de Outubro de 1910, uma revolução em Portugal derrubou a velha e caduca monarquia para proclamar uma república que, entre acertos e erros, entre promessas e malogros, passando pelos sofrimentos e humilhações de quase cinquenta anos de ditadura fascista, sobreviveu até aos nossos dias. Durante os enfrentamentos, os mortos, militares e civis, foram 76, e os feridos 364. Nessa revolução de um pequeno país situado no extremo ocidental da Europa, sobre a qual já a poeira de um século assentou, sucedeu algo que a minha memória, memória de leituras antigas, guardou e que não resisto a evocar. Ferido de morte, um revolucionário civil agonizava na rua, junto a um prédio do Rossio, a praça principal de Lisboa. Estava só, sabia que não tinha qualquer possibilidade de salvação, nenhuma ambulância se atreveria a ir recolhê-lo, pois o tiroteio cruzado impedia a chegada de socorros. Então esse homem humilde, cujo nome, que eu saiba, a história não registou, com uns dedos que tremiam, quase desfalecido, traçou na parede, conforme pôde, com o seu próprio sangue, com o sangue que lhe corria dos ferimentos, estas palavras: “Viva a república”. Escreveu república e morreu, e foi o mesmo que tivesse escrito: esperança, futuro, paz. Não tinha outro testamento, não deixava riquezas no mundo, apenas uma palavra que para ele, naquele momento, significaria talvez dignidade, isso que não se vende nem se deixa comprar, e que é no ser humano o grau supremo.